Revista Fotoptica Nº 40 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas

ZÉPINTO /continuação Z é Pinto está olhando pelo visor da máquina enquanto fala com seus assistentes — só chama auxiliares quando a foto é muito complicada — e dá ordens, em frases curta cididas aos modelos. Ele possui as máquinas mais modernas e uma li ­ nha de equipamento que poucos fotógrafos conseguem. Isso porque sabe o valor da técnica: — O equipamento fotográfico é coisa maravilhosa. As máquinas, as lentes, os filtros, podem fazer de uma mulher feia uma mulher boni ­ ta; de um bom sujeito, um vilão. O fotógrafo pode moldar a vida como se estivesse com pincel e tinta. Usando lentes, luz e filmes adequa ­ dos, êle cria atmosferas e situações que só existem em sua imaginação. É torna real o que é irreal. Mas, para isso, é necessária uma tremen ­ da disciplina interna, o que somente se consegue errando muito. Des­ truindo as coisas que fizemos e que a vida supera. Não guardando nada com o objetivo de repetir. E ter sempre na cabeça que o que se fêz hoje é apenas um passo para o que se vai fazer amanhã. J osé acabara de ser dis ­ pensado do Exército — como excedente — quando recebeu o con ­ vite de outro fotógrafo: — A gente pode montar um “ foto” . Vai dar bastante dinheiro. “ Foto ” é um estúdio para fazer postais, fotografias para documen ­ tos, casamentos, quase tudo. Ele topou. E trabalhava à noite para aumentar a receita. Uma b.uate es ­ tava em moda em Belo Horizonte. Chamava-se Acaiaca. Com a Rol ­ leiflex novinha que acabara de com ­ prar — com flash e tudo — José resolveu tentar a sorte. Conseguiu permissão para trabalhar dentro da buate. — Uma foto, cavalheiro? O homem concordou, a foto se ­ ria do casal agarradinho: o homem já corôa, ela novinha. José aprontou a máquina, ajeitou a lâmpada do flash, focalizou e disparou. Nada. Tentou novamente — nada. Pediu desculpas, retirou-se para o fundo da buate. Experimentou, o flash dis ­ parou. Trocou a lâmpada e voltou para junto do casal. Nova tentativa — nada. A lâmpada não se mani ­ festou. Voltou para o fundo, mexeu, a lâmpada disparou. Voltou para a frente da mesa. O flash falhou outra vez, o homem não agüentou. Le ­ vantou-se e agarrou-o pela gravata: — Escuta aqui rapaz, está pen ­ sando que eu sou palhaço? Ponha- se daqui para fora antes que eu fique bravo. Vá fotografar a vovò- zinha. José Pinto foi proibido de voltar 13

RkJQdWJsaXNoZXIy NjEwNjAz