Revista Fotoptica Nº 40 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas
ZÉPINTO /continuação à buate. Resolveu tentar outro ca minho: o jornal. AGFA-GEVAERT - Anúncio Publicitário Q uando está fotografan do, ZéPinto entrega-se inteiramente ao traba lho. Vive, respira, ra ciocina em função da idéia que tem na cabe ça. Na foto que está fazendo para a revista Realidade (uma mulher nua, sentada numa cadeira, cercada de recortes de revistas eróticas) seu olhar é ardente, quase lúbrico. Êle tem de provar, com a foto, que o sexo invadiu tudo. Usa, para isso, uma tonalidade sensual para o cro mo; a colocação da mulher diante da câmara obedece a uma técnica de mostrar pouco e sugerir muito; e a iluminação cria a ambiência completada pelos recortes de revis tas. O rosto da mulher transpira se xualidade por todos os poros. Zé Pinto vive o clima do estúdio com intensa realidade: — Minhas fotografias saem con forme meu estado de alma. Se estou calmo, elas são tranquilas. Se estou na fossa, saem deprimidas, qualquer que seja a cena que estou registran do. Não sei como isso acontece com a câmara, que é uma máquina. Sei apenas que é uma espécie de pro jeção, uma integração homem-má quina. E a técnica a ser usada é quase intuitiva. Por isso erro muito. BASF - Anúncio Publicitário F oi no jornal que o pes soal abreviou-lhe o no me para Zé Pinto. E êle mesmo começou a es crever o nome todo li gado: ZéPinto. Primeiro cargo: trabalhar junto ao colunista social do Diário de Minas. Dava-se bem com o colunista até a hora que terminava sua missão jornalística nas festas e recepções: — Terminou? Então vai lá para a cozinha. O seu jantar está pronto. Se precisar de você, eu chamo. Apesar disso, ZéPinto tomou gôsto pelo trabalho — e conseguiu vender muitas fotos para as pessoas que participavam das recepções. Com o dinheiro, comprou uma mo tocicleta. Foi num dos passeios com a moto, num domingo de tarde, que conheceu Olímpio Braga, um velhi nho cineasta da velha-guarda. Qua se o atropela, mas depois do susto, muitas desculpas, o conhecimento, a amizade, até que Olímpio ensina ZéPinto a fazer cinema. Tirou-o do jornal e deu-lhe um emprego em sua firma — na ocasião fazia filmes para a campanha de Juscelino à presidência da República. Com Olímpio Braga, ZéPinto co nheceu obras de gente com nome estranho: Eisenstein, Fritz Lang, Bufiuel. Percebeu que o cinema era um pouco mais do que focalizar e apertar o botão. Aprendeu o que era plano, abertura, luz, corte, tra veling. E ganhou uma sensação no va, igual à que experimentava o menino índio dentro da câmara escura: — É genial a sensação de levar a câmara ao olho e caminhar com ela sabendo que o mundo está ca minhando junto com a gente. N uma janela colonial muito antiga, coberta de ervas, a gôta de chuva brilha, na ponta de uma fôlha. O mesmo brilho está nos olhos de uma jovem, quase menina, muito loura, os cabelos compridos, olhar de surpresa. ZéPinto descobriu a fo tografia enquanto caminhava pela rua. Olhou a garôta na janela e resolveu que ela era a própria ilus tração para reportagem sôbre vir gindade que êle preparava para uma revista feminina. Para fazer a foto não usou quase nenhum recurso técnico. Foi intui tivo como quase sempre, coerente com o que pensa: — A linguagem fotográfica é muito mais imaginação, intuição, criatividade, do que recursos técni cos. Não é necessário a um pintor conhecer em detalhes a história do desenvolvimento técnico da pintura para saber expressar seus sentimen tos. A técnica é quase intuitiva, de acordo ccm aquilo que se deseja pintar ou fotografar. E cada artista encontra a sua forma particular de comunicar as coisas. Isto não quer dizer que não existam as fotos mais estudadas, onde a técnica é pre dominante. Mesmo assim, porém, o que dirige a técnica é a criatividade, a imaginação, a intuição do artista, que escolheu uma técnica ou um conjunto de. técnicas para dizer algo determinado. O sol, o filtro, a po sição da câmara, o filme e a lente. Tudo depende do que o fotógrafo sente. ZéPinto quer guardar o amor
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