Revista Fotoptica Nº 40 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas

C om o entusiasmo que o velho Olímpio lhe des ­ pertou pelo cinema, Zé ­ Pinto tornou-se cinegra ­ fista conhecido em Belo Horizonte. Um dia, o convite: — Quer trabalhar na televisão? Foi para a TV-ltacolomi e traba ­ lhou tão bem que acabou chefe do departamento de cinema da esta ­ ção. Nessa época, os proprietários de uma grande loja mineira o pro ­ curaram para fazer um filme co ­ mercial. O filme puxou outro e pouco tempo depois êle se definia: ia fazer publicidade. Saiu da televisão, montou uma agência e ganhou muito dinheiro. Um dia alguém lhe ofereceu uma pechincha: — Quer comprar uma máquina de sonorização de filmes? Foi o azar: comprou, não pôde pagar, nunca recebeu a máquina, acabou até fechando a agência. Mas não seria o suficiente para derrotá- lo. Foi então para o Rio. Também não teve sorte, embora tentasse uma volta ao jornal: — Só consegui emprêgo n ’ O Dia. Mas o primeiro trabalho era foto ­ grafar um cadáver; desisti. Em 1962, ZéPinto, o índio de Ponte Nova, agora casado, dá outra virada em seu rumo: São Paulo. Aqui conheceu Nogushi, um de­ senhista que acabava de fundar uma agência de publicidade e precisava de um fotógrafo. ZéPinto dava ou ­ tro passo, desta vez o definitivo. Mais tranquilo, resolveu até ampliar seu equipamento técnico. A agência andava bem, mas uma encrenca entre os sócios provocou o seu fechamento. ZéPinto, porém, continuou com a sede da agência e transformou-a num estúdio Com ­ prou ainda mais equipamento e atirou-se ao trabalho. Os clientes fo ­ ram surgindo, êle executando cam ­ panhas inteiras de grandes anun ­ ciantes. Viajou, conheceu gente, aperfeiçoou sua técnica e definiu-se profissionalmente, transformando-se num dos mais famosos fotógrafos de publicidade do Brasil. Ao mesmo tempo, era chamado a fazer ilustra ­ ções para as mais importantes re ­ vistas do país — Realidade, Quatro Rodas, Claudia e outras. Inaugurou então um nôvo estúdio e virou em ­ prêsa. Se o povo de Ponte Nova o visse agora, ia até sentir orgulho e achar o que todo mundo estava achando — êle é um homem realizado. Mas ZéPinto tem alguma coisa a mais que os outros homens. Alguma coisa especial que o acossa, que não o deixa parar. Certamente a mesma coisa que o levou, há pouco tempo, com tudo na mão, a despedir todos os funcionários. Resolvera fazer apenas o que lhe trouxesse satisfa ­ ção íntima. Êle sabe sabe que isso é muito duro — tem mulher e três filhos — a maior parte das vêzes impossível. Mas êle vai para a nova estrada. E começa a andar de nôvo. Z éPinto está em casa. Jacqueline, a filha mais velha, está sentada no chão, desenhando figu ­ ras coloridas num car ­ tão. Ana Paula, a outra menina, está quieta, acompanhando de ôlho arregalado o trabalho da irmã. Lá dentro, a mulher cuida do caçula, um guri gordo que ainda não fêz um ano. ZéPinto está com a máquina na mão. Bate chapa atrás de chapa, sem parar. Quer guardar a inocência dos filhos, como guar ­ dou antes o riso, a alegria, a ter ­ nura. — Não tenho ilusões. Sei que não vou conseguir me realizar fa ­ zendo jornalismo ou fotografias de publicidade. Mas pode ser que eu dê uma contribuição plástica, mo ­ ral, para entendermos melhor os ho ­ mens. E as relações entre êles. Por isso estou guardando material para um álbum sôbre o amor. Quero con ­ tribuir para que os homens enten ­ dam mais o amor, e o considerem, como eu, a coisa mais importante que existe. Por isso fotografo meus filhos, minha mulher, meus amigos. Pode ser — sempre — que esta seja a minha última fotografia. En ­ tão ela precisa ser uma fotografia de amor. Sei que enquanto pensar assim estarei vivo, respirando, amando. Quando não tiver mais ânimo para levantar a câmara é que não tenho mais amor para dar, nem para ver, ou guardar nesta minha caixinha. Quando não conse ­ guir mais fotografar somente por amor, terei certeza de que morri. Então veja a prova em contrário ■ O Binóculo TURFIST é fabricado por D. F. Vasconcellos S. A Isto quer dizer que se o seu binóculo sofrer um acidente, tôdas as peças poderão ser trocadas por outras originais - Anúncio Publicitário Você ainda pensa que binóculo prismático é só para milionário? TURFIST D.F.Vasconcellos S.A. Anúncio Publicitário

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