Revista Fotoptica Nº 40 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas

Não parece , mas Cartier-Bresson está mostrando um abismo O uso intensivo de fotografias pelos meios de comunicação de massa traz sempre novas responsabilidades para o fotógra ­ fo. Temos de reconhecer a existên ­ cia de um abismo entre as necessi ­ dades econômicas de nossa socieda ­ de de consumo e as exigências da ­ queles que testemunham esta épo ­ ca. Isto afeta a todos nós e parti ­ cularmente à nova geração de fo ­ tógrafos. Devemos tomar o maior cuidado para não permitir que se ­ jamos separados do mundo real e da humanidade. Esta advertência está colocada no texto de apresentação da expo ­ sição que o Museu de Arte Con ­ temporânea da Universidade de São Paulo apresentou de 14 de maio a 4 de junho do corrente, e está assi ­ nada pelo autor das 151 fotografias expostas: Henri Cartier-Bresson. A exposição foi originalmente organizada para o Museu de Arte Moderna de Nova Iorque e veio a São Paulo através do programa in ­ ternacional do museu norte-ameri ­ cano, pelo seu Departamento de Ex ­ posições Circulantes. John Szarkowski, diretor da se ­ ção de fotografia do Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, afirma a importância de Cartier-Bresson pa ­ ra a fotografia: ■ — Cartier-Bresson não conside ­ ra os requisitos do profissionalismo ou as leis do gôsto fotográfico pre ­ dominante como fundamentais. As fotografias de Cartier-Bresson são complexas no desenho, sem orna ­ mentos na superfície e aparente ­ mente extraídas quase ao acaso do decorrer existencial da vida. Descar ­ tando as normas aceitas de excelên ­ cia técnica e pictorial, Cartier-Bres ­ son descobriu uma nova ordem for ­ mal que permanecera oculta no flu ­ xo do movimento e da mudança É o mesmo John Szarkowski que no texto de apresentação da expo ­ sição de Cartier-Bresson faz um li ­ geiro retrospecto das atividades do fotógrafo francês, um dos mais im ­ portantes fotógrafos do mundo e criador de uma tendência na arte fotográfica: — Começando nos últimos anos d década de trinta, Cartier-Bres ­ son tentou colocar o seu próprio estilo de fotografia a serviço do jornalismo. Desde então êle tem si ­ do uma figura destacada no desen ­ volvimento da foto-reportagem. Não obstante a sua vida e a requintada defesa do papel da foto-jomalística, as fotografias expostas poderíam su ­ gerir que o jornalismo tem sido a exceção, não a fôrça motriz de suas melhores obras. O jornalismo ocupa-se principalmente do mundo dos eventos hierárquicos, ao passo que Cartier-Bresson se ocupa em primeiro lugar da qualidade da vi ­ da comum. Poucas das suas foto ­ grafias estão ligadas a episódios dig ­ nos de notícias. Embora feitas num centésimo de segundo, expressam o carater de décadas de gerações Em contradição com a opinião emitida pelo diretor do Museu de Nova Iorque, o texto de apresen ­ tação das fotografias da exposição situa Cartier-Bresson como um ho ­ mem determinado e com idéias de­ finidas e originais sôbre fotografia. — No seu modo de ver, a foto ­ grafia nada mudou desde a sua ori ­ gem, exceto nos seus aspectos téc­ nicos os quais não são minha preocupação principal. A fotografia é uma operação instantânea que exprime o mundo em têrmos vi ­ suais, tanto sensoriais como intelec ­ tuais, sendo também uma procura e uma interrogação constante. É ao mesmo tempo o reconhecimento de um fato numa fração de segundo e o arranjo rigoroso de formas perce ­ bidas visualmente, que conferem a êsse fato expressão e significado. Cartier-Bresson se define como um repórter preocupado com o tempo e o espaço: — Sendo num certo sentido um livro de anotações que registra esboços feitos no tempo e no espa ­ ço, a câmara é também um instru ­ mento admirável para apreender a vida da forma tal como ela se apre ­ senta. Sem a participação da intui ­ 16

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