Revista Fotoptica Nº 41 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas

N O R EALISMO PURO a fotografia de Maureen Bisilliat existe uma constante: a procura da situação verdadeiramente extrema; do momento onde a pres ­ são ambiente sôbre o indivíduo atinge o máximo; do instante em que faltando ao homem a capacidade para erguer suas auto ­ defesas, mostra-se totalmente nu, deixando cair a máscara que se impôs como forma de subsistir socialmente. Mas como Maureen localiza estas situações? Ela procura as crises sociais ou psicológicas em momentos de crise fun ­ damentalmente físicas (as mulheres na lama, não somente caçando caran ­ guejos, mas lutando para não cair, não sucumbir ao calor, ao frio, do am ­ biente adverso). O importante é não olhar as fotos de Maureen como denúncias sociais, e sim compará-las ao trabalho de um cientista, um biólogo por exemplo a obser ­ var as reações de uma amostra ao microscópio. Como o cientista, Maureen disseca a coisa, racha, entorta, a fim de observar-lhe a estrutura fundamental. Essa estrutura fundamental que ela chamou de “ vitalidade animal" e que vai buscar nas situações extremas de crise social. Seus retratos absolutamente diretos e, se necessário, brutais, são um con ­ fronto com a pessoa fotografada. A beleza é o resultado dêsse confronto direto e às vêzes brutal, onde ela procura uma fotografia de crise sem preocupar-se, entretanto, com a localização das origens dessa crise, nem com apresentar soluções para resolvê-la. Sua preocupação básica é o re ­ gistro da crise como um momento de “ vitalidade animal ” . Nas fotos das caranguejeiras existe ainda o que Maureen chama de “ orien ­ tação cinematográfica. Ê a fotografia rápida, sem preocupação com proble ­ mas formais de composição — ela dispara, dispara, dispara, da posição que escolheu. O negativo será examinado no ampliador, quando ela procurará o quadro de interesse. Depois, na Câmara escura, ao contrário de sua téc ­ nica habitual, parte do quadro será retirada e Maureen obterá, com muita fineza de composição, a fotografia desejada. Os “ contatos ” deram apenas o sinal de que o negativo integral aqui não tinha importância. Finalmente, uma última observação nesta rápida análise do trabalho de Maureen: a fôrça sensual e a lembrança da morte contidas em suas fotos. Situações psicológicas e sociais extremas. A luta na lama e os corpos foto ­ grafados (no presente trabalho) simbolizam a morte e o sexo. GEORGE LOVE 19

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