Revista Fotoptica Nº 41 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas
pelo nível de qualidade. Partindo dêsse princípios de ordem geral, vamos procurar uma visão também geral no campo dos aparêlhos de alta-fidelidade que se encontram atualmente no mercado, sem a pretensão de esgotar o assunto, que é vastíssimo. Vamos examinar, só como exemplo, alguns dos muitos modêlos existentes. Como se costuma dizer, nenhuma corrente é mais forte que o elo mais fraco que a compõe, porque é nêle que ela começará a se romper. A alta-fidelidade pode ser comparada com uma cor rente de elementos técnicos que não pode ter uma fidelidade su perior à do seu elemento menos fiel. Se qualquer um dos com ponentes não está no nível dos outros, a fidelidade da reprodução musical fica comprometida, prejudicando e inutilizando tôdas as boas qualidades dos outros. Um aparelho de reprodução de som, seja disco, fita-magnética, ou rádio-receptor, só tem direito à qualificação de alta-fidelidade quando satisfaz certas caracte rísticas técnicas bem precisas. Para defini-las bem sem entrar em comentários complicados, podemos lembrar alguns crimes comuns de “ alta-infidelidade ” . O caso das estações de ônibus, ou trens, por exemplo, onde os anúncios transmitidos pelo alto- falante chegam ao público barulhento, “ fortes ” , mas pr a ticamente ininteligíveis; ou o do telefone em que não se consegue reco nhecer a voz do interlocutor e o sentido das palavras. São casos extremos, é claro. Mas um técnico, encarregado de explicar os motivos de tão graves infidelidades, diria, de início, que as ondas sonoras que chegam ao ouvinte não tinham a mesma for ma no original. Os meios técnicos utilizados (aparêlhos de di fusão sonora, circuito telefônico, toca-discos etc., tinham provo cado modificações nos elementos fundamentais. Como é sabido, a voz humana resulta da sucessão e superposição complexa de vibrações das cordas vocais, que dão lugar a repercussões alter nativas no ar — mais ou menos freqüentes, mais ou menos am plas — as assim chamadas ondas sonoras. De resto, tem origem semelhante qualquer som ou rumor que percebemos com o ouvido. Se a voz feminina é em geral rica de tons agudos ou altos, enquanto a masculina é mais rica de tons baixos ou graves, é por que as cordas vocais de mulher são mais curtas e portanto adap tadas para vibrar com frequência elevada. As de um homem, mais longas, vibram mais lentamente, isto é, com menor fre quência. A voz humana é composta de sons em freqüências que vão de um mínimo de cêrca de 80 hertz (baixo) até um máximo (agudo) de pouco mais de 1 000 hertz (o número de hertz representa o número de vibrações por segundo), e cada som fundamental — as coisas se complicam — é acompanhado por freqüências har mônicas, isto é, vibrações com freqüência dupla, tripla, ou múl tipla. A voz de uma pessoa se distingue da voz de outra exata mente por causa da diversidade de riqueza, e da distribuição individual destas harmonias que caracterizam os diversos tim bres das pessoas. Do mesmo modo, uma nota musical se distin gue de uma segunda que é emitida por um violino, uma trompa ou um piano porque, embora tendo a mesma freqüência funda mental, é acompanhada de uma qualidade e uma quantidade diferente de freqüências harmônicas. Uma reprodução ruim pode ser, portanto, atribuída a uma peça defeituosa que, por exemplo, favoreça a passagem de freqüências baixas em prejuízo das altas, provocando uma “ distorção de freqüências ” . Levando em conta as freqüências harmônicas — que, como vimos, caracterizam o timbre pessoal da voz humana — é necessário, para obter uma reprodução fiel, que o aparêlho possa reproduzir fielmente tôdas as freqüências contidas na voz original compreendida em uma escala que vai de cêrca de 80 a cêrca de 5 000 hertz) sem pre ferências e sem ajuntar atenuações arbitrárias ou modificações. Em uma palavra, “ sem distorções ” . Ao se passar da reprodução da palavra para a da música, seja ela sinfônica ou operística, jazz ou de câmera, então as exigências técnicas a respeitar tor nam-se ainda m ais rigorosas. Quando se pensa, por exemplo, que as freqüências fundamen tais dos sons emitidos pelas cordas de um piano vão de 27 a 3 480 hertz e que tôdas as freqüências fundamentais de cada ins trumento musical, seja êle de corda, sôpro, ou percussão, são
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