Revista Fotoptica Nº 41 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas
MAMÃE FOTOPTICA COMO VÃO AS DUAS MÁQUINAS QUE VOCÊ TEM EM CIMA DO NARIZ? R ubens Jardim, 23 anos de idade, escriturário, mío pe, entrou na loja apres sado. Estava curioso. Eram os primeiros óculos de sua vida. E, realmente, assim que ajustou os óculos e deu uma olhada em volta, Rubens percebeu que não estava curioso à toa. Embora soubesse que sua miopia não era grande coisa — um grau no ôlho direito e 0,25 no es querdo, nunca imaginara que vinha vendo as coisas tão fora de foco. Im Em cima, normal. A imagem se forma na retina. No meio, miopia, a imagem se forma antes da retina. Embaixo, hi permetopia, imagem atrás da retina. pressionado com a mudança, soltou até um palavrão, baixinho. Acostumado a êsse tipo de cena nos seus doze anos de experiência, Antônio Maghesso, o assistente do Departamento de Ótica, observava, com um sorriso, a reação de Rubens. Só não esperava que o rapaz viesse com aquela sabatina. A curiosidade de Rubens espichara e êle só saiu da loja depois de arrancar de Antô nio Maghesso duas exposições com pletas sôbre olhos, lentes, óculos. Exposição 1 ( resumo das explica ções pormenorizadas e ilustradas com exemplos, fornecidas pelo assistente Antônio Maghesso ao entusiasmado cliente Rubens Jardim) — Você deve saber mais ou me nos como funciona uma máquina fo tográfica. Pois bem, a máquina foto gráfica é uma imitação perfeita do ôlho. Por exemplo, o filtro de prote ção da máquina fotográfica é também uma cópia do ôlho. O filtro de prote ção do ôlho é a córnea, primeira par te a entrar em contato com a luz. O diafragma é a íris, que faz a dosagem da luz e serve também para dar côr aos olhos. Na íris existe um buraqui nho por onde a luz entra: é a pupila, (na máquina é a abertura do diafrag ma). No fundo dos olhos fica o cris talino (na máquina é a objetiva). É uma lente biconvexa que recebe os raios luminosos e põe os objetos em foco sôbre a retina (na máquina é o filme). Como é uma lente biconvexa, o cristalino manda as imagens para a retina de cabeça para baixo. Cabe ao nervo ótico levar essas imagens até o cérebro para copiá-las e revelá-las, isto é, colocar a realidade em pé, na posição normal. Essa operação se processa o tempo todo, rapidíssima, à velocidade da luz: 300 mil quilômetros por segundo. Por causa dessa rapidez é que nada percebemos. Às vêzes o ôlho tem defeitos de re fração. O primeiro é a miopia. Isso ocorre quando o cristalino está longe demais da retina (na frente da retina). O ôlho, nesse caso, é maior do que devia. Os raios luminosos são dirigi dos para fora da retina, que está mais atrás e as imagens se formam fora de foco. O segundo defeito é a hipermetro pia, que é o contrário da miopia. Isto é, o cristalino fica atrás da retina e a imagem também fica fora de foco. Já o astigmatismo ocorre quando a córnea não está funcionando direi to, apresenta algum defeito na sua curvatura. Aí a imagem sai deforma da. E as lentes servem para corrigir êsses defeitos. Fim da exposição nú mero um. Exposição 2 (resumo das explica ções originadas pela seguinte pergun ta do cliente: “ e como são feitas as lentes? ” ) O oculista descobre o defeito e faz uma receita explicando que tipo de lente é necessária para corrigi-lo, quantos graus ela deve ter. Qualquer das oito lojas da Fotoptica manda logo 'a receita para o nosso laborató rio, onde trabalham 30 operários especializados. A função dêsses homens é de dar grau nas lentes. Êles preparam cêrca de três mil receitas por mês. ou seja, seis mil lentes. As lentes são importadas dos Esta dos Unidos, Alemanha ou Japão. São Aqui, quem usa óculos (e até quem não usa), tem direito a uma aula completa sôbre os defeitos da vista e a forma de corrigi-los. vidros redondos com faces planas e paralelas. Possuem diâmetros e espes suras variadas. O primeiro trabalho é escolher o bloco de diâmetro e espes sura mais adequados ao tipo de arma ção preferida pelo cliente (as arma ções também são importadas, só que da França). Devo esclarecer que as lentes não vêm prontas do estrangeiro porque êsse é um trabalho que não pode ser feito em série. Ê um trabalho artesa nal. E, modéstia à parte, temos alguns dos melhores artesãos do Brasil. Voltando às lentes: depois de esco lhido o bloco, as superfícies do vidro são rebaixadas encurtando-se a espes sura e o diâmetro, até ser alcançada a curvatura desejada. Nesse trabalho de rebaixar as superfícies, uma face do vidro deve ficar sempre mais curva que a outra — um trabalho delicado que exige técnica elevada. A diferença de distância entre uma face e outra, variável conforme a re ceita do oculista, vai dar o grau. É o que vai ajudar o cristalino do ôlho e enfocar a luz sôbre a retina, encurtan do ou prolongando a projeção dos raios luminosos, corrigindo o defeito do ôlho. Fim da exposição número 2. Nota da redação: o "cliente" Ru bens Jardim é o repórter Carlos Mo rari, que tem 23 anos, um grau de miopia no ôlho direito, 0,25 no es querdo, e que no dia 25 de junho de 1970 fêz uma espécie de teste com o Departamento de Ótica da Fotoptica. O leste descrito acima. 27 O QUE HA EM CIMA DOS NOSSOS NARIZES E ATRÁS DE UM PAR DE ÓCULOS - UMA AULINHA DE ÓTICA E UM DEPARTAMENTO.
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