Revista Fotoptica Nº 44 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas
Use as armas de um profissional. ABRAÃO BENJAMIN Use Nikon Anúncio Publicitário . Dispare como Ken Whit more ou George Love. É claro, você precisa praticar mais, sempre mais. Mas Nikon acrescenta uma cen telha ao seu talento. A cen telha de um profissional. desta máquina: VISOR PRISMÁTICO, FOTOMETRO DESTACÁVEL (SISTEMA TTL COM MEDIÇÃO ATRAVÉS DA OBJETIVA), OBTURADOR DE CORTINA TB 1/1000, SINCRONIZADOR MX, DISPARADOR AUTOMÁTICO REGULÁ VEL, INDICADOR DE PROFUNDIDADE ATRAVÉS DA OBJETIVA, ESPE LHO DE RETORNO IMEDIATO, VISOR EST1GNOMÉTRICO, 14 LENTES INTERCAMBIAVEIS PARA FOCALIZAÇÃO. CONTADOR DE RETÔRNO AUTOMÃTICO, DUPLA EXPOSIÇÃO, INDICADOR DETAMANHO DE FILME Distribuidor exclusivo T.TANAKA&CIA. l tda. Anúncio Publicitário Importadores — Lampião organiza festas. Seus cabras passeiam tranqüilamente pelas ruas. As crianças, atraídas pelas roupas coloridas e pelas armas repletas de moe das de ouro, seguem os cangaceiros e se deliciam quando êles se dispõem a contar seus grandes feitos contra as volantes. Nessas paradas do grupo, a personalidade de Virgulino se alteia. Mantém a disciplina no bando mas é paternal e carinhoso com seus homens; a comida é sempre boa — êle cuida disso — e há sempre carne, farinha, rapadura e café. Nas festas populares — segundo conta Labareda, que foi lugar-tenente de Lampião — os canga ceiros se divertem, cantam, dançam, oferecem bebidas. Sua preocupação pela roupa bonita, bem enfeitada, é uma oportunidade de trabalho bem pago para os alfaiates, as costureiras, as bordadei ras, os artesãos do couro. Uma Maria muito bonita Há muitas versões sôbre o encontro de Maria Bonita e Lampião. Tôdas, en tretanto, concordam num ponto: Maria gostava dêle antes de conhecê-lo, só por sua fama. O cangaceiro Cambaio dei xou uma versão. Certa noite, voltando de Jeremoabo para Gangorra, Lampião é seguido por uma volante e se refugia na casa de João Casé, o pai de Maria Bonita. Ela é casada com Zé de Neném e vive perto da fazenda do pai. Sabendo da chegada de Lampião, manda-lhe uma mensagem por Luís Pedrói. — Compadre Virgulino — diz Pedrói. — Encontrei com Maria Bonita, que bem merece êsse nome. Ela está apai xonada pelo compadre, e quer muito conhecê-lo. — Um cangaceiro não deve amar ninguém, compadre. — Eu sei, compadre, mas essa mulher tem olhos extraordinários. Só o diabo pode resistir a ela. Lampião resolve ir até a casa de Zé de Neném. A própria Maria Bonita vem abrir a porta: — É êste que eu amo. Tu me leva, ou quer que eu te acompanhe? — O que tu quiser, Maria. Se tu quer viver comigo para sempre, então vamos. Maria entrou no quarto e, à maneira dos cangaceiros, apanhou apenas um cobertor e duas mochilas. Zé de Neném, o marido, petrificado, ouviu de Maria apenas uma frase: — Adeus, Zé. Maria Bonita foi sempre muito respei tada no bando. Lampião tratava-a com grande ternura e tinha seu nome — qu? êle intimamente mudara para Santinha — gravado no anel. Apesar disso, quan do longe dela, não resistia a aventuras com outras mulheres, algumas vêzes usando mesmo da violência. De todos os bandos, o de Lampião parece ter sido o único que permitia às mulheres ter vida integral no cangaço. Maria Bonita, por exemplo, só se afas tava em condições especiais. Dar à luz era uma delas, embora alguns de seus filhos tenham nascido em plena caatinga, com a ajuda do próprio Lampião. Maria Bonita teve seis ou sete filhos, mas só sobreviveu uma menina — atualmente ainda viva. Além de Maria Bonita, duas outras mulheres fizeram nome no cangaço: Durvalina, companheira de Virgínio — cunhado de Lampião; e Dadá, mulher de Corisco, que hoje vive em Salvador. Padre Cícero e o fotógrafo Abraão Um balanço da atividade de Lampião que aparece no livro de Optato Gueiros mostra êstes números: 500 propriedades assaltadas, mais de mil pessoas assassi nadas, cinco mil cabeças de gado rou badas ou mortas, 200 mulheres violen tadas, 200 combates. Lampião foi ferido seis vêzes, viu morrer seus três irmãos e perdeu (por morte ou prisão) 800 cangaceiros. Com tudo isso, dizia-se o Imperador do Sertão. Uma vez propôs ao gover nador de Pernambuco que o Estado fosse dividido em dois — o Litoral, que ficaria com o governador, e o Sertão, sôbre o qual êle reinaria. Dos muitos encontros de Lampião, dois tiveram grande importância históri ca: a) com o sírio Abraão Benjamin, fo tógrafo e cineasta amador que conseguiu fazer do bando o melhor documentário existente: fotos (que ilustram êste artigo) e filmes; b) encontro com o padre Cí cero, de Juazeiro . Parece que entre os dois — o cangaceiro e o “ padim ” Cícero — havia relações de respeito. Aprovei tando essa circunstância, o govêrno ten tou, através do padre Cícero, fazer com que Lampião lutasse contra a Coluna Prestes. Para dar cunho oficial ao ofere cimento, Lampião é recebido em Juàzei ro como um chefe e, sob as vistas de um engenheiro do govêrno, recebe de Padim um documento dando-lhe o grau de capitão de exército. Lampião recebe o título, as armas e o uniforme, mas ja mais enfrentará, com seus 300 homens de então, os 3 000 da coluna Prestes. Sua morte até hoje não está perfeita mente contada. Em 1939, com apenas oito cabras e as mulheres, estava escon dido na fazenda Angico, em Sergipe. Era uma verdadeira fortaleza, onde Lampião recebia visitas, jogava cartas, dava fes tas, traficava armas. Um esconderijo aparentemente seguro. Mas um cabo da polícia militar — João Bezerra (vivo ainda, mas muito doente) — consegue prender Pedro Cân dido, comerciante acusado de esconder Lampião. Sob tortura, Pedro Cândido entrega Lampião. Haverá então uma ver dadeira chacina, ainda que o livro de Nonato Masson sustente outra versão: a de que Pedro Cândido, fazendo jogo duplo, tenha colocado veneno no café dos cangaceiros e que a polícia já os encontrou mortos. Seja como fôr. às 7 horas da noite de 29 de julho de 1939, na escadaria da igreja de Santana do Ipanema, em Ala goas, foram expostas ao povo onze ca beças: Lampião, Maria Bonita, Enedina, Luís Pedro, “ Caixa de Fósforos ” , “ Elé trico ” , “ Mergulhão ” , “ Sexta-Feira ” , “ Di ferente ” , “ Cajarana ” e um não-identi ficado. No dia seguinte, salificadas, as cabe ças seguiram para Maceió. Tempos de pois, mumificadas, integraram o Museu Nina Rodrigues, em Salvador. Há dois anos, autoridades baianas mandaram en terrar as cabeças. O mito ficou. Nas lendas, nas feiras, nas festas religiosas, na poesia popular, nos ditos do povo, Lampião é herói, assassino impiedoso, príncipe, bandolei ro ou Robin Hood do sertão.
Made with FlippingBook
RkJQdWJsaXNoZXIy NjEwNjAz