Revista Fotoptica Nº 44 - 1970 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas

FE I R A A CORRIDA ELETRÔNICA DO JAPÃO COM O OCIDENTE, OS SETE FOTÓGRAFOS QUE FALAM EM NOME DE UM MUSEU, O CONTEÚDO DE UMA FOTO GANHA O PRIMEIRO PRÊMIO OS DOIS LADOS DE PA Q UITO, OS CONCURSOS E EXPOSIÇÕES DE ARTE. Medalha de ouro para uma foto que mostra a guerra, mas é uma foto de alguém tentando salvar uma vida O júri do XVII Salão Internacional de Arte Fotográfica, aberto de 19 de outubro a 19 de novembro, no Paço das Artes (ave ­ nida Paulista, 326, São Paulo), deu a medalha de ouro a um tenente-coronel das Forças Armadas do Vietnam do Sul, Nguyen Ngoc Hanh. Seu trabalho — “ O Sôpro da Vida ” — é um flagrante nos campos de batalha do Vietnam. Ao justificar o prêmio, o júri de ­ clarou que a foto traduz uma mensagem profunda e dramática de solidariedade humana. “ O fator político andou à margem do julga ­ mento ” — garantiu Eduardo Salvatore, membro do júri e presidente do Foto-Cine Clube Bandeirante, responsável pela promoção. "Não nos preocupamos absolutamente em saber qual o lado ocupado na guerra pelos personagens que aparecem no flagrante, muito menos a posição de seu autor. Só houve interêsse no significado da obra em si. ” Tècnicamente — reconheceu o júri — a fotografia não possui nada de extraordinário. A importância está no conteúdo: “ Numa guerra estúpida, onde os corpos se espatifam a êsmo, aos montes, captar a tentativa de salvar uma vida significa transmitir uma mensagem de valorização do homem ” . Duas medalhas de pra ­ ta foram concedidas a Ojutkangas Kalervo, da Finlândia, pelo traba ­ lho “ Small People ” , e a Friedrich Horacek, da Áustria, por “ Elsan ” . Entre os quatro ganhadores de medalhas de bronze, está o brasi ­ leiro Clóvis E. Copelli, autor de “ O Sr. Promotor ” . Houve cinco men ­ ções honrosas: uma delas coube ao brasileiro Mário Cardoso, pelo seu “ Portrait ” . O FCCB recebeu inscrições de 714 concorrentes de 40 países, num total de 2.459. trabalhos, a maior quantidade já recebida mundialmente por um salão de arte fotográfica. O júri escolheu 446 trabalhos de 258 autores, em três categorias: prêto e branco; slides; e fotos coloridas. Nove países foram eliminados, porque suas foto ­ grafias estavam abaixo do nível exigido. O Brasil teve 200 con ­ correntes e 654 trabalhos. Foram aceitos 158 de 70 concorrentes. A grande surprêsa do júri foi a baixa qualidade apresentada pelos EUA, embora se saiba que os fotógrafos norte-americanos prefiram os salões europeus. Esperava-se maior participação da Itália e Ar ­ gentina — países de tradição fotográfica — e melhor qualidade do Brasil. Nas fotos em prêto e branco, destacaram-se França e Checos ­ lováquia; nos slides em côres — como sempre — houve preferência da Áustria; e nas ampliações coloridas, da Alemanha. Para Eduardo Salvatore, êsse salão não está mostrando nenhuma novidade impor ­ tante: “ Depois de atingir certo nível, a criatividade estacionou ” . Na exposição de artes plásticas vão entrar sete nomes estranhos às artes plásticas — sete fotógrafos O s nossos museus de arte têm uma associação chamada AMAB — Associação dos Museus de Arte do Brasil. E todo ano a AMAB chama um homem de cada museu, escolhe uma ci ­ dade brasileira, leva todo mundo para lá e todo mundo passa u mês (de 1 a 30 de novembro) discutindo, fazendo conferências, en ­ fim, estudando, ao mesmo tempo em que são expostas as melhores obras de arte feitas no Brasil. Êste ano, o encontro, batizado de En ­ contro Nacional de Artes Plásticas e patrocinado pelo Museu de Arte Contemporânea do Paraná, vai ser em Curitiba. Com uma grande novidade: a delegação de artistas de São Paulo vai levar sete fotógrafos. Todos muito importantes: Claudia Andujar, Maureen Bisilliat, George Love, José Xavier, Derli Barroso, Ado Simoncini e Miguel Anselmo Vigliola. “ Cada um dêsses artistas possui uma ima ­ ginação diferente, um jeito particular de observar a realidade; alguns, tecnicamente , atingiram um nível criativo comparado aos dos me ­ lhores fotógrafos internacionais ” — essa é a opinião do professor Walter Zanini, diretor do Museu de Arte Contemporânea da Univer ­ sidade de São Paulo. Êle tem certeza de que vai causar impacto em Curitiba, levando fotografias para uma exposição de artes plásticas. E tem pronta a explicação para quem se mostrar surprêso: “ Todos os processos e materiais são válidos para a imaginação criadora, e a fotografia é um dos mais importantes na sociedade tecnológica. É o meio que serve mais eficazmente à tendência dos artistas con ­ temporâneos de retratar a problemática da vida moderna. Mas não se pense que é nova a relação entre a fotografia e as artes plásticas. Os impressionistas Delacroix e Dégas já a utilizavam como recurso de expressão na primeira metade do século XIX. Mais para a frente, outras relações aparecem entre a cronofotografia de Marey, o cubis ­ mo e o futurismo. Entre os dadaístas Raoul Hausmann, John Heat ­ field, Hanna Hoeck a fotografia representou um meio para a reno ­ vação da linguagem artística. E foi ela que conduziu a pintura, no comêço do século, para o abstracionismo: não podendo mais con ­ correr com a máquina fotográfica, capaz de reproduzir mais nitida ­ 8

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