Revista Fotoptica Nº 85 - 1978 Biblioteca de Fotografia do IMS - Coleção Thomaz Farkas

EDUARDO ANTUNES Nas fusões e sanduíches Dudu cria um clima irreal. E diz.-não é difícil. Dudu (Eduardo Antunes) calcula a abertura da tornei ­ ra, o tempo de exposição do copo e a temperatura am ­ biente: pronto, mais um chopp é servido em seu bar, o Ludwig II (Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 985, no Itaim- bibi) . “ Hoje eu tiro chopp pra fazer fotografia ” . Dudu dono de bar. Dudu fotógrafo. Dudu falante e expressivo. Dudu empresta ao chopp a mesma persistência e técnica que dedica à fotografia. Dudu fala de chopp e alegria, de fotografia e decepção. Os motivos da desilusão são muitos. Se você for ao bar, Dudu conta tudo. Vale o comercial e o chopp gela ­ do. Mas nada acontece por acaso. Nem o chopp, nem as fotos (sanduíches e fusões destas páginas). Dudu gos ­ ta de criar. Mesmo que sejam coisas irreais. Só que até para a irrealidade é preciso um processo, uma intenção. Saber o que quer quando vai fotografar talvez seja a maior técnica de Dudu, além da câmara, do tipo de exposição e de alguns filmes especiais. Dudu sabia o que pretendia quando resolveu fazer um sanduíche fotográfico onde sua mulher aparecesse em ­ pedrada. Primeiro, fotografou a mulher, nua, em casa. De ­ pois, ficou durante quinze dias procurando um muro, um ajuntamento de tijolos que atendesse sua necessidade. Foi um processo longo, demorado, pensado. Mas conse ­ guiu. E o resultado aí está: uma mulher esculturada nas pedras, um jeito, talvez, de eternizar o amor num mate ­ rial mais resistente. E isso é só um exemplo das irreali ­ dades que Dudu realiza. Mas o que importa o real? Olhe para a borboleta pou ­ sada no banco de jardim. Dudu quis prestar uma home ­ nagem ao ser que tem tão pouco tempo de vida. E que, no entanto, luta para sair do casulo, abandonar a condi ­ ção de crisálida e tornar-se, enfim, borboleta. Com todas as implicações de ser borboleta. Voar, por exemplo. Que coisa irreal! Mas o que importa o irreal, quando se toma um belo chopp bem gelado. E que até parece verdadeiro!

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